quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

CAMPEÃ GELADA

Uma cerveja feita com o mesmo método do champanhe entra na lista das brasileiras mais cultuadas entre os apreciadores
A Lust, cerveja produzida pela Eisenbahn, de Santa Catarina se parece com tudo - menos com cerveja. Sua embalagem, com rolha, é de espumante. Seu preço - 80 reais - é de um bom vinho. E o teor alcoólico, de 11,5%, está bem acima do teor da maioria das cervejas. Com um sabor igualmente incomum, misturando tons frutados e levemente adocicados, a Lust conquistou o respeito dos experts na bebida, a ponto de entrar recentemente para a lista das 100 melhores cervejas do mundo elaborada pela revista americana Imbibe-liquid Culture, publicação de referência no setor. "Queríamos fazer algo diferente para despertar o desejo do consumidor", afirma Juliano Mendes, fundador da Eisenbahn e atualmente consultor para cervejas da Schin, que comprou a marca no ano passado. "A Lust é uma bebida para ser apreciada como um uísque raro, algo que vai além de simplesmente tomar uma 'estupidamente gelada' no boteco ou na praia."
A inspiração para a criação da cerveja ocorreu quando os proprietários da Eisenbahn estiveram na Bélgica e provaram as cervejas feitas pelo método champenoise. De acordo com essa fórmula, depois da fermentação natural, a cerveja segue para uma vinícola, onde é engarrafada e sofre a adição de açúcar e de leveduras de vinho, o que provoca uma segunda fermentação. Ao voltar para Santa Catarina, além de leveduras belgas, os donos da Eisenbahn trouxeram na bagagem o mestre cervejeiro Gerhardt Beutling, um bávaro com 30 anos de experiência na técnica que ficou encarregado de tentar repetir no Brasil a experiência belga. "Acompanhei todas as etapas, desde a compra de tanques até as primeiras degustações", diz Beutling. A Lust chegou ao mercado há três anos, tornando-se a terceira cerveja do mundo produzida por champenoise (as duas outras são as belgas Deus e Malheur). Em sua versão mais "popular", cotada a 80 reais, a Lust matura durante três meses até desenvolver seus aromas e sabores. Sua linha mais sofisticada, a Prestige, que custa 100 reais, leva um ano para ficar pronta.
Assim como a Lust, existem outras boas cervejas artesanais brasileiras que conquistaram prestígio internacional. A Colorado Indica, produzida no interior de São Paulo, por exemplo, recebeu em 2008 a medalha de ouro em sua categoria no European Beer Star, um dos mais famosos concursos da bebida no Velho Continente.
Em comum, as geladas campeãs do Brasil têm o fato de ser produzidas por microcervejarias, um negócio em expansão no país. No início da década de 90, existiam apenas seis empresas desse tipo. Hoje, há quase 2.000 microcervejarias. A exemplo do que ocorre na Europa e nos Estados Unidos, a fatia ocupada pelos rótulos especiais no mercado brasileiro ainda é pequena - 4%. No exterior, porém, o segmento cresce num ritmo maior que o das cervejas comuns. "O Brasil tem tudo para repetir o fenômeno", afirma Ênio Rodrigues, superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja.
FONTE: Revista Exame, 30 de dezembro de 2009

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